Nesse Domingo saiu a entrevista que a Rachel McAdams concedeu ao The Sunday Times Style, confira abaixo a tradução completa.
Ela pode ter feito o seu nome como uma ‘Menina Malvada’, mas na vida real, a atriz Canadense Rachel McAdams, é absurdamente gentil. Quando o garçom trouxe nossos lattes de cúrcuma – afinal de contas estamos em Los Angeles – ele derrubou o meu em cima do pires no momento em que colocou na minha frente. Rápida como um flash, McAdams pega e diz ‘Eu fico com esse,’. Não, você não precisa, eu insisti, pegando de volta. Virou uma batalha de gentileza e tudo que conseguimos com isso foi derrubar mais do liquido amarelo.
McAdams, 40 anos, apareceu nas nossas telas em 2004 como essa abelha rainha do ensino médio, Regina George, no filme de sucesso adolescente ‘Meninas Malvadas’ – “Não se deixe enganar, por ela pode parecer uma típica piranha egoísta que te apunhala pelas costas com cara de vagabunda, mas na verdade ela é muito pior”, como uma das colegas de classe da Regina diz. No mesmo ano, McAdams também apareceu no filme ‘Diário de uma Paixão’ como uma herdeira encantadora, apaixonada por um trabalhador interpretado pelo Ryan Gosling. Ambos os filmes conquistaram um enorme número de seguidores.
“‘Timing é uma coisa muito engraçada.” McAdams conta. “Eram papéis diferentes em gêneros diferente, o que me deu mais escolhas.” Isso é um tipo de eufemismo. O que ela quer dizer é que ela nunca foi deixada de lado, se estabelecendo como uma atriz com um enorme alcance e uma grande versatilidade. Ela já interpretou de tudo, desde de uma detetive persistente em ‘True Detective’ a uma noiva ultrajante, esmagadora de sonhos no filme “Meia Noite em Paris’ do Woody Allen. Ela ganhou sua nomeação ao Oscar com o seu papel em ‘Spotlight’ ao interpretar uma corajosa repórter, que expôs o abuso de crianças em uma igreja católica em Boston.Mas também tem um longo histórico no seu currículo como atriz principal em romances e comédias como em ‘Questão de Tempo’, ‘Penetras Bons de Bico’ e ‘Para Sempre’.
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É com esse papel da vida real como mãe, que McAdams se sente mais feliz: ela e o seu parceiro, Jamie Linden, um roteirista americano, tiveram um filho em Abril. ‘De longe é a melhor coisa que já aconteceu comigo. [As pessoas dizem que] sua vida não é mais sua. Mas eu tive 39 anos só pra mim, eu já estava enjoada, eu estou feliz em poder focar em outra pessoa. Eu esperei muito tempo [para ser mãe].” Intencionalmente? “Foi como aconteceu. E eu não queria que acontecesse antes do momento certo.”
Ela quer dizer antes de conhecer a pessoa certa. Após ‘Diário de uma Paixão’, ela namorou o Gosling, entre idas e vindas, por quatro anos, e depois o ator britânico Michael Sheen durante dois anos. Uma vez ela disse que o seu par ideal seria um escritor:” Eu imaginava que eu sempre conseguiria persuadi-lo a sair da sua mesa, trazendo um pouco de chá. Acalmando-o.” Ela lembra de ter dito isso? “Sim,” ela ri. “Eu acho que disse isso sem pensar, eu só gostaria de estar com alguém criativo. Nós vivemos uma vida tão nômade como atores que [é ótimo] estar com alguém que pode te acompanhar no caminho.”
Nós sentamos em frente essa frágil mesa em um café cheio, McAdams está irreconhecível em uma blusa de linho cinza e uma calça folgada com cor de ferrugem combinando com um tênis. “Eu estou vestida o que é uma coisa boa,” ela brinca, fazendo uma alusão ao caos da maternidade. “Eu não sei o que eu estou vestindo hoje. Os tênis estão sendo mantidos juntos com cola. Isso é triste? Eu preciso dar um jeito na minha vida.”
Nós nos encontramos para falar sobre o seu novo filme, ‘Desobediência’, que conta a história de uma filha lésbica de um rabino (interpretada pela Rachel Weisz) quando ela retorna de Nova Iorque para a comunidade de judeus ortodoxos no norte de Londres. Ele é baseado no livro de estreia da autora britânica Naomi Alderman, que foi ao mesmo tempo muito controverso e aclamado nas críticas. Weisz veio com os direitos dos filmes e como produtora, enquanto McAdams interpretou sua amante secreta, uma judia ortodoxa casada. As críticas americanas elogiaram a performance de ambas atrizes.
Filmado em Hendon, o filme pode estar ligado as tradições reclusas dessa comunidade judaica, mas, McAdams diz que, o tema principal de achar aceitação para o amor homossexual é muito familiar. “É trágico pensar que, com todos os problemas no mundo, nós problematizamos quem você quer amar. Isso me deixa maluca.”
O caso delas atinge o ponto mais alto com a cena de sexo visceral que é mais graciosa do que sexual. McAdams admite que ficou apreensiva em relação ao papel, mais por causa do sotaque britânico (que ela entrega com excelência) do que com a cena do sexo. “[Essa cena] foi muito importante para a trama. O meu personagem foi escrito de uma maneira em que tinha algo muito libertador no fato de ficar nua, tanto literalmente como metaforicamente… Levou um tempo para começarmos, mas acabou sendo um dia maravilhoso.”
Baseado nos seus sucessos anteriores, McAdams foi chamada de ‘a nova Julia Roberts’, mas apesar de ter algumas similaridades físicas com a Julia – covinhas e um sorriso contagiante – ela não é a cópia de ninguém. Sentimos uma intensidade pensativa a respeito dela, como se fosse um pedaço de aço: ela nunca se deixou moldar pelas expectativas da indústria. Ela rejeitou um photoshoot da Vanity Fair em 2006 quando soube que teria que posar nua, aparentemente demitindo o agente que a mantinha nesse caminho. Não muito tempo depois, ela parou de atuar por alguns anos.
Com o escândalo do Harvey Weinstein, McAdams falou para a Vanity Fair em Outubro passado como o diretor James Toback tentou manipula-la em uma audição quando ela tinha 21 anos. Depois de falar que precisava ter uma intimidade com ela, ele perguntou se ela não podia mostra os seus pelos pubianos. Ela recusou e saiu correndo. Foi a única vez, diz, que presenciou esse comportamento predatório. “Até agora. Mas tem comportamentos mais sutis que são dificeis de você classificar.” Hollywood, ela acha, está indo mudando de direção. “Eu me sinto melhor em relação ao mundo o qual novas atrizes estão entrando.”
Diferente de muitos atores, ela não se deixa abalar com nenhum acontecimento pessoal. “Se ela vem com alguma bagagem, é uma mala de mão”, disse Tom Bezucha, que a dirigiu em ‘Tudo em Família’. McAdams ri quando eu conto isso. “Eu não a sabia disso. Que fofo.” Sim, concorda, ela foi educada de uma forma maravilhosa. A mais velha de três filhos, ela cresceu em St Thomas, Ontário; sua mãe era uma enfermeira e seu pai motorista de caminhão. Por anos ela bateu o pé dizendo que nunca iria se mudar para Los Angeles. “É”, diz timidamente, “Ai está!” A principal razão é sua irmã, Kayleen, uma maquiadora de celebridades em LA. “Ela é boa o bastante para arrumar um tempo pra mim,” McAdams diz. “Eu sempre me arrumo com ela.”
Em Ontário ela passa os seus verões nadando nos Great Lakes e os invernos descendo nos tobogãs entre as árvores e castelos de neves. Quando tinha sete anos, escreveu uma carta aos seus pais falando do seu desejo de ser atriz, “Eu escondi embaixo da minha cama, fiquei com vergonha.” Seus pais sempre lhe deram apoio: ela começou a atuar na escola e em acampamentos de verão. Mas ela também amava esportes, especialmente a patinação. “Eu meio que era uma atleta, não era muito popular,” ela diz. “Eu passava muito tempo observando as Reginas George, curiosa sobre o que fazia elas serem do que jeito que eram.” Ela foi vítima de uma Regina? “Eu acho que todo mundo foi vítima de uma Regina”, responde.
Quando fez a audição para ‘Meninas Malvadas’, ela achou que estava sendo considerada para o papel da protagonista boazinha que eventualmente a Lindsay Lohan interpretou, mas ficou animada quando foi oferecido o personagem da Regina. “É muito mais divertido interpretar a vilã,” ela conta com prazer.
Até nos dias de hoje, ela pode estar andando na rua e ocasionalmente vai escutar alguém gritar uma das falas do filme: “That’s so fetch!” (Isso é tão maneiro).
Pais gostam de citar ‘Meninas Malvadas,’ ela diz sorrindo. “Eles estão querendo mostrar que são descolados.”
Ela não tem nenhuma rede social, “Eu ainda não sei como isso funciona,” conta. “Eu não sou boa em me auto promover, eu não era boa vendendo cookies ou papel de embrulho no Natal. Bater na porta dos outros e pedir dinheiro não é comigo.”
Ela claramente é uma mãe consciente, lendo manual para pais e fazendo questão que seu filho não seja exposto às telas. “Nós nunca ligamos a televisão quando ele está por perto”, ela diz.
E ela admite que começou a se sentir mais sentimental agora que é mãe. “Você vê tudo com um olhar muito particular: mais sensível, mais aberto. É como estar voando o tempo todo”.
É hora de ir embora: ela ainda está amamentando o seu filho e sua próxima refeição já está atrasada. Eu pergunto se ela está pensando em ter mais um filho. Ela hesita, como se considerasse responder ou não, mas então ela sorri: “Eu acho que definitivamente temos espaço para mais um.”