novembro 7, 2018   Paige   disobedience, Matérias, RMcABR

 

 

Em outubro desse ano, Rachel McAdams concedeu uma entrevista para a revista Inglesa, Violet. Confira abaixo a entrevista completa e traduzida.

Rachel McAdams é uma rara criatura. Uma mulher com um brilho que a coloca no coração de cada filme que faz parte. Uma atriz que consume o papel e é tão convincente como uma Menina Malvada, a protagonista em de um romance ou uma forte jornalista investigativa. Uma beleza verdadeira em que a aparência usualmente é o tópico menos atraente sobre os personagens que ela habita. Uma estrela que gera muito lucro e se afastou da indústria no auge da sua carreira antes de retornar com um maior poder sobre suas escolhas, que faz de Toronto sua casa, não Los Angeles, que repetidamente excede as expectativas de Hollywood. Esse ano ela se tornou mãe pela primeira vez e produziu a performance mais hipnotizante da sua carreira como Esti em Desobediência, um filme requintando e importante que trata sobre amor, sexualidade, devoção, religião e feminismo de uma maneira que só é possível no momento atual. Nessa entrevista ela fala com Rebecca Lenkiewicz que co-escreveu o roteiro de Desobediência.

Rachel McAdams e Rebecca Lenkiewicz

Ok, a gravação começou.

(Rebecca) Oi, Rachel [risos]

(Rachel)  Oi, como você vai?

 Eu estou bem, como você está?

Bem, bem, esse começo foi bem sério ‘A gravação começou’.

[Risos] Sim. Vou começar com uma conversa sobre Desobediência e continuamos dai, tudo bem?

Ok, ótimo.

Quando eu li o romance Desobediência [Escrito por Naomi Alderman], e li o roteiro que Sebastián [Lelio, o diretor do filme] escreveu inicialmente, Esti, o personagem que você interpreta grandiosamente – o estranho foi que, tudo que eu captava dela era a parte de trás do pescoço, fisicamente. É a única imagem que eu tenho dela, vendo-a de trás e vestida, e a parte de trás do seu pescoço, que era longo e bonito. E então você apareceu, e a interpretou tão fantasticamente e eu me questionei, qual foi sua resposta diante do roteiro e como você interpreta alguém que é aparentemente tão diferente de você. Como você faz isso?

Certo. É tão interessante que é desse jeito você você a via, e que eu estaria toda coberta. [risos]

 

 Sim. Mas eu quero dizer, assim que você se tornou ela, assim que eu a vi, você era ela, e foi estranho quando eu vi uma foto do seu pescoço. Eu fiquei ‘Oh’, eu fiquei toda arrepiada.

Oh, obrigada. Sabe, eu acho que ela foi desenhada de um modo tão bonito que quando eu entrei em cena ela já estava idealizada por você e Sebastián, e é algo que não vemos todos os dias. Então sobrou muito pouco para imaginar porque já tinha muita informação e ao mesmo tempo me peguei sonhando e pensando nela o tempo todo. Eu acho que é quando você sabe que é certo fazer algo, é [quando] você fica muito envolvida com aquilo. Eu me sinto assim com todos os personagens e eu acho que o que me chamou a atenção inicialmente, foi o roteiro, onde cada personagem tem um arco rico e completo e nenhum está usando o outro só para se destacar na história, sabe, e todo mundo está em uma interessante jornada . Eu não senti como se alguém estivesse sendo deixado de lado, e até mesmo Dovid [interpretado pelo Alessandro Nivola] o homem que foi traído – ele não era apenas um acessório, ele era uma pessoa real.  Me pergunto, foi de propósito? Você leu o livro da Naomi primeiro antes de ler o roteiro? Ou leu o roteiro primeiro?

 

Eu li o roteiro do Sebastián primeiro e conversei sobre, nós reescrevemos, e depois eu li o livro, o que foi brilhante e bem diferente de como fizemos com o roteiro.

Certo, certo.

 

Mas ambas as versões da Esti continuaram a mesma em espirito, mesmo que em circunstâncias diferentes. O que eu achei que foi tão particular sobre a maneira que você a interpretou e como ela é no livro, é que algumas pessoas poderiam vê-la de alguma forma presa, mas há uma força nela e eu acredito que foi isso que chamou a minha atenção, a força e a dignidade.

 Certo, bom eu acho que se ela fosse retratada apenas como estando presa, você perderia muitos conflitos, e como atriz você está sempre almejando um obstáculo maior e um maior desafio.

 

 Sim e ela tinha uma escolha para fazer em vários campos, mas a escolha sobre sua sexualidade era proibida, você sabe, e como ela negocia isso… Eu achei brilhante e fascinante. É algo tão difícil de dizer, e sobre os outros dois [Dovid e Ronit, interpretada pela Rachel Weisz], vocês eram tipo uma trindade, e eu suponho que a vantagem foi que vocês tinham um tipo de energia, e às vezes no filme não tem ensaio, é na hora, mas vocês tiveram um tempo para trabalhar com o outro.

Sim, sim [risos]. Sim, nós tivemos. Foi como quando nós ensaiamos para uma peça, o jeito como nos acomodamos em Nova Iorque. Rachel [Weisz] generosamente abriu as portas do seu escritório e acomodou todo mundo e foi muito diferente de qualquer filme que eu me preparei antes. A figurinista estava lá e a fotógrafa para tirar as fotos minhas e da Rachel, lado a lado em nossos figurinos, em diferentes looks que estávamos experimentando, e a maquiadora estava trabalhando em outro quarto, e o cabeleireiro…. Todo mundo estava junto como um grupo, e Sebastián estava lá participando durante todo o tempo, e quando nós parávamos para almoçar, Rachel, Alessandro, eu e Sebastián sentávamos por lá mesmo e conversávamos. Era incrível. Foi uma experiência tão rara e nós tiramos muito disso. Eu acho que foi imperativo o que nós fizemos, e eu gostaria que isso ocorresse o tempo todo. Mas sim, é um filme corajoso. Tinha muito para adaptar e foi legal chegar no momento da gravação, [tendo] feito isso tudo, mas não sabendo o que iria acontecer. Definitivamente havia espaço para experimentação e um teor de adrenalina e ‘Oh, como que vai ser?’ Então nós não sabíamos como tudo iria sair.

 

 Quero dizer, ele é um diretor incrível, quando falamos sobre a visão dele e o modo como ele prepara as coisas, foi lindo. Eu dei a dica de colocar você no elenco, o que foi maravilhoso.

Certo…

…e incomum, foi brilhante. Ele [Sebastián] disse, você sabe ‘Rachel se sente assim sobre a Esti’ e ‘Rachel Weisz se sente desse jeito em relação à Ronit’ e isso porque, não importa o quando você crie um personagem, você não os interpreta, entende? E eu me lembro de você falando ‘Eu não acho que sairia da quarto’. E era verdade, e foi lindo e libertador para mim sentir que os personagens estavam sendo lidos pelos atores. Mas eu suponho que seja raro ter essa liberdade nos filmes.

Sim, e eu acho que, Sebastián tem uma alma muito humilde, generosa, sabe? Ele era muito franco sobre o que ele não sabia quando o assunto era cultura, religião ou algo assim – ele é do Chile mas vive em Berlim – e ele frequentemente dizia “Eu vou checar com a Rebecca sobre isso”. Então eu estou curiosa em como você facilitava a vida dele – você fez muitas pesquisas? Eu sei que você pesquisa muito antes de um trabalho.

 

 

[Previamente] um Expert em judaísmo estava graciosamente me falando, apontando, o que estava certo, o que estava errado. Então foi um processo bem pensado. Mas eu quero dizer, você não faria um projeto a não ser que você soubesse que teria esse investimento, ou você não saberia dizer até você já estar envolvida? Diretores que eu já trabalhei eles ficavam neuróticos, sabe, e às vezes eu não tenho conhecimento até trabalhar com eles e então eu penso, ‘Oh, isso é uma vergonha’.

Sim, é verdade. Quer dizer, você não sabe em que está se metendo. Especialmente com filmes, como eu disse, sem ensaio, e tipo, todas as estrelas tem que estar alinhadas. Às vezes eu fico admirada como filmes são feitos, em como eles se encaixam, tem tantas partes e acho que o diretor frequentemente… Eu nunca quero dirigir porque eu sou terrível em tomar decisões. Eu não consigo ser rápida em tomá-las, tenho que pensar, ir e voltar e agir como o advogado do diabo e ser o meu próprio pior inimigo e ai voltar e… Enfim, é exaustivo. Mas eu nunca conseguiria ser diretora porque o trabalho se baseia em constantemente ter que tomar decisões e às vezes que eu conversei com diretores, eles falavam “Você tem que fingir até conseguir’ e eu acho que há muita responsabilidade nesse posto. Eu sou uma peste [risos]. Mas é o meu processo.

 

 

Eu sempre senti que eu nunca poderia ser diretora porque eles tem muita confiança, mas eu disse isso para Steve McQueen e ele meio que me olhou curioso e perguntou “temos?”

Sim [risos]

Você tem que ter ser tão confiante ao ponto de saber que todo mundo está fazendo o que é para ser feito. É tipo quando as pessoas pensam que você é inspirador ou algo assim, e [na verdade] é mais sobre trabalhar duro e eu acho que atuar é o mesmo em termos de trabalhar um personagem. Mas o que me encanta em atuar em filmes é que às vezes você tem tão pouco tempo para o ensaio e mesmo assim você tem que estar apto, e com a escrita você pode colocar no papel.

Aham.

Você pode escrever e depois voltar. Eu comecei a atuar e amei, mas a confiança, sabe, em dias em que nada está dando certo ou quando você tem que estar lá e… Suponho que você está se forçando a isso, então em termo de concentração…

Sim, eu acho que a concentração é algo grande assim como bloquear as coisas. Eu tenho que me convencer de que ninguém vai me ver. Se eu começar a pensar muito [risos], sabe – Então eu pretendo de que não tem ninguém olhando. Mas sim, eu acho que o torna atuar tão vulnerável e que nesses dias que em você não está se sentido confiante, e tem tanto – eu diria que eu me sinto confiante sobre algo em apenas 8% de uma filmagem [risos]. O resto do tempo não. De certa maneira isso é um presente, e é tão intimidador, mas é uma das nossas maiores qualidades. A sensibilidade de um ator é constantemente o que você mais quer ver, sendo platéia – essa veracidade. Tipo, eu não sei o que estou fazendo, eu não sei exatamente como dizer essa fala, e nesse momentos, as pessoas se atrapalham, são esses momentos únicos, orgânicos, que todo mundo lembra, eu acho.

É uma mistura curiosa. Você tem que ser forte se quiser sobreviver, e resistente, em termos de fazer um filme, em termos de ter um filme comentado em termos de, sabe, todo esse barulho que temos que de alguma forma ignorar e manter a alegria.

E se aprimorar nisso.

Se sentir confortável, certo?

Sim, o que foi que a Uta Hagen – foi ela que falou que você deve ter o coração de uma rosa e a pele de um elefante?

Exatamente. E essas duas coisas são tão contraditórias, entretanto, quando elas estão alinhadas… E tem similaridades com a escrita, as pessoas chutam o seu roteiro como se fosse futebol, sabe? E esperam que você produza algo que seja maravilhoso. Deus…

Sim, exatamente.

Foi somente uma vez, em Spotlight, que você interpretou alguém que ainda está vivo e que se baseou em uma pessoa real? Você teve outros papéis assim?

Ainda vivo[risos], que eu me encontrei na verdade. Sim, eu acho que essa foi a primeira vez que eu interpretei alguém ainda vivo e tive a oportunidade de passar um tempo com ela, foi tão… Ele é uma mulher incrível, Sacha [Pfeiffer]. Foi ótimo porque – de novo, eu sinto que o diretor ajuda muito nesse aspecto, porque eu disse para o Tom McCarthy, o diretor, “O quão parecido você quer que eu a interprete?” E ele sempre dizia “Eu quero que você seja o mais realista possível, sabe, cada mania e tudo sobre eles que você puder pegar e expressar” Até que uma hora que ele falou “Eu quero que você conheça Sacha melhor do que eu e que você me avise caso algo não pareça autêntico”. Foi ótimo. Ele ficou “Sacha diria algo assim?” e eu simplesmente poderia perguntar a ela.

Então, isso que também foi tão incrível sobre Desobediência, poder falar com o Sebastián, e como você por ele, e com a Naomi que escreveu o livro, que cresceu nessa comunidade em Londres… Sabe, poder falar com ela diretamente.

Absolutamente. E o fato da Naomi ter amado o filme. Obviamente nós todos amamos o livro dela e queríamos honrá-lo. É muito satisfatório o fato dela dizer que quando assistiu teve uma sensação de Déjà vu, que aquilo tinha acontecido com ela, o que eu achei maravilhoso e ela ficou muito emocionada.

Ah, uau, sim.

E eu acho é um tipo fantástico de inspiração (role model), em termos de uma mulher sendo dona de si. E Sacha é um fantástico exemplo em Spotlight. Então, além de botar a mão na massa e fazer e executar o filme, tem outro aspecto, jovens mulheres estão assistindo à esses filmes. E é interessante quando elas dizem, ‘Eu percebi que eu posso fazer algo porque eu vi alguém fazendo.’ 

Ah claro, absolutamente.

Sabe, uma fantástica jornalista mulher, descobrindo essa grande rede de pedófilos, eu sinto que eu posso fazer isso, não é só um bando de homens que são capazes. E eu acho que é encorajador – o feminismo ainda tem muito chão pelo frente, mas isso, encorajar as pessoas mais novas, ainda mais mulheres jovens, as incentivam. Eu não costumava sentir uma responsabilidade na vida e agora eu sinto. Não sei se você sente algo parecido com a atuação.

Sim, eu sinto. Eu fiz algo chamado ‘Meninas Malvadas’, que a Tina Fey escreveu anos e anos atrás, e foi quando eu meio que senti a responsabilidade [risos].

Sim, esse filme foi enorme.

Sabe, quando eu estava lendo o livro – porque Tina Fey se baseou em um livo para pais, sobre como falar com seus filhos e como lidar com o que realmente esta acontecendo com as meninas nesse mundo difícil em que elas se encontram, e por que eu li o livro para me preparar para o filme, eu pensei, isso é muito mais que um filme divertido. Acho que foi quando eu comecei a pensar, use sua voz da melhor maneira que puder, e então, ao mesmo tempo, mostre várias personalidades. Eu penso que isso entrega uma diversa amostra de personagens e que as mulheres podem ser o que elas quiserem. Elas podem ser fortes em um momento e fracas em outro, e não para ai – fraqueza é sugestiva, e não é só ter aquela ideia de ser uma mulher forte, o que é limitante. Acho que é sobre ser honesta e mostrar diversos caminhos e possibilidades e, saindo um pouco do assunto, eu lembro de assistir O Paciente Inglês e ver a Kristin Scott Thomas – você lembra da cena que ela sai da banheira e vemos que ela tem seios pequenos? Eu nunca tinha visto aquilo em um filme.

Sim. Lindo.

[risos]. Sim, tudo foi tratado de uma maneira que eu nunca tinha visto e eu me senti melhor em relação ao meu corpo, e eu acabei pensando nisso em termos de fazer uma cena de nudez em um filme e a responsabilidade de mostrar todos os lados disso. Você também sente essa responsabilidade?

Eu sinto. E mais e mais conforme envelheço. Eu já trabalhei com a Kristin e ela foi direta em falar que nunca iria fazer uma cirurgia ou parecido, porque ela gostaria de se orgulhar. Ela fala, eu quero ter expressões faciais e eu quero me orgulhar de ter 50 anos ou algo do tipo. É igual essa pressão constante em ser nova, e ser elogiada sobre o quão nova você parece ser. Eu me sinto totalmente culpada, mas é tão errado que nós não mostremos nosso conhecimento e idade com orgulho.

Sim.

Você vê fotos de Índias Nativas Americanas e você pensa em nós e como, sociedade Ocidental, tentamos e sabe, perdemos a linha. Acho incrivelmente triste. Mas eu sinto uma responsabilidade ao escrever, e em escrever para um grande grupo de mulheres, só porque nós acabamos normalizando que absolutamente todos os heróis são homens. Então eu tento reparar isso.

E você se sente assim há tempos? De onde veio isso?

Acho que no começo, eu estava feliz em escrever sobre amores disfuncionais e era meio que uma auto obsessão…

[risos] Ah, está tudo ai.

Eu escrevi uma peça sobre as sufragistas porque era muito próximo ao meu coração, e eu acho que desde então… Eu acho que o tempo se torna uma moeda. Acho que são tempos difíceis para ser uma jovem mulher, de verdade. É uma coisa não ter um voto mas há desafios diferentes, e eu sinto me sinto orgulhosa e protetora das adolescente no momento. Acho que é um ambiente muito duro, sabe?

Sim. E você tem percebido alguma mudança? Percebeu que algo impacto foi causado?

Eu acho que está mudando, mas também que… Por exemplo, a internet pode ser algo fantástico e eu sinto que há muito empoderamento feminino acontecendo, mas… No outro dia eu estava lendo músicas de um livro que é direcionado os militares da força aérea e tinha músicas de ódio à mulheres, e elas são publicadas e esses homens são encorajados a pensar nas mulheres como objetos. E as músicas, se elas fossem publicadas em jornais, as pessoas ficariam chocadas. E eu acho que nós estamos em um ambiente onde os homens são encorajados a não serem tão generosos – isso é muito inocente – tão misógino que chega a ser perigoso.

Entendo.

É uma vulnerabilidade que temos que debater.

Sim, como nós não nos deixamos levar de um extremos para o outro? Com o #MeToo e tudo envolvido eu acho incrível. Tem uma revolução acontecendo, e na minha indústria, todas as atrizes mais velhas estão olhando pra trás e pensando ‘Ah, nós também fizemos isso nos anos 60 e 70 e agora está voltando a acontecer”. É um tipo de reincarnação disso ou há uma real mudança acontecendo? Eu acho que há uma mudança acontecendo. Mas creio que o perigo é, você vai de um extremo ao outro e é quase como a política americana [risos], você acaba nessa câmara de ecos. E então o outro grupo se sente marginalizado, perdendo o poder e começam a erguer-se. Como você acha o meio termo onde todo mundo é escutado e todos se sentem humanos e tem compaixão por todas as pessoas. Mas eu também acho que você tem que lutar e usar sua raiva para chegar em algum lugar.

Sim.

É complicado.

E sim. Eu acho que a raiva não é para ser mantida à distância. Eu acho que raiva te motiva a fazer algo, mesmo criativamente, a raiva é incrivelmente útil. Mas eu acho que a Marcha das Mulheres foi um movimento tão incrível, tão poético e forte e, as coisas podem ser feitas; e eu acredito que há uma maré de mudança acontecendo, mas ao mesmo tempo, eu fico preocupada pelos indivíduos afetados. Não vai desaparecer, os problemas não vão desaparecer só porque estamos ressaltando o assunto, sabe?

Sim e como você falou, meio que abrange novas áreas e nós estamos lutando para continuar. Eu acabei de ver esse filme ‘Eighth Grade’. Já ouviu falar? É sobre uma garotinha tentando achar o seu caminho durante a oitava série, com a rede social e é incrível. Não sei [risos] eu não estou na oitava série mas… abriu o meus olhos. É lindo. Ela encontra o seu caminho e celebra por ser um individuo e todas essas coisas que nós gostaríamos de voltar no tempo e contar para nossa versão mais nova.

É que quando você é novo, você está sedendo por tudo, não é? E coisas podem acontecer, boas ou ruins, é quase como um redemoinho. E estamos vivendo um momento muito obscuro;. Penso que há movimentos incrivelmente fortes e brilhantes acontecendo atualmente, e os últimos eventos que aconteceram nos últimos anos foram quase como um sonho – assim como na politica, sabe – surreal. E você sente que algo tem que acontecer contra tudo isso, alguma revolução contra essas ideias egoístas e gananciosas. É igual o ideal de comunidade, ambiental, está meio que saindo de controle e os donos do dinheiro… é assustador. Também me parece que as pessoas estão prontas para agir. Dá um alivio ser Canadense [rindo], você me entende? As pessoas podem assumir que você é americano mas sempre que eu descubro que um ator é Canadense eu respiro aliviada, tipo “Ah, maravilha.” Quero dizer, Los Angeles, é uma cidade estranha, não é? – mas as pessoas amam.

Sim, eu não sei. Quer dizer, estou esperançosa…. Alguém me deu um folheto outro dia, há menos guerra na terra do que antes visto e há mais alfabetização – era um tipo de gráfico sobre o quão longe nós chegamos e é difícil de se ver quando você está no meio dessas atrocidades. Era meio encorajador. Mas é bom voltar pra casa no Canadá [risos] e fazer compostagem e tipo, um estilo de vida. É ótimo ser de lá. Como é no Reino Unido em termos do movimento #MeToo e na indústria?

Muito está se tornando acessível, muita conversação, muito de tudo – então há esperança. E acho que pode acontecer sem que tudo seja exterminado, porque pode ultrapassar os limites de um lado, com correções politicas isso e aquilo, mas acho que conversar sobre isso é um meio saudável. Acredito que as pessoas estão mais conscientes e estão tomando mais cuidado com o modo que se tratam, o que é importante.

Verdade, sim!

E aqui, mulheres estão sendo incríveis e brilhantes e há vários teatros e várias atrizes que os abraçaram de uma forma grandiosa, é fantástico. Mas eu não sei, você não sabe até daqui dez anos, não é?

Isso é verdade.

É que o sexismo do dia a dia continua. As estatísticas são aterrorizante,pelo menos  na Inglaterra,  a quantidade de mulheres que são são diretoras ou quantas mulheres, sabe, estão no topo. Tem uma grande quantidade de mulheres na fase de desenvolvimento em filmes mas elas não são incentivadas para outras áreas. Então, é quase um mundo masculino. E o que dificulta é que quando você é uma mulher rigorosa você ganha a fama de ser difícil ou problemática, mesmo que você tenha agido igual um homem, você é apenas vista como boa no seu trabalho. E isso que está em jogo – assegurar que a força feminina não seja vista como histeria, que claro, vem da mulher.

Sim, exatamente.

Muitas vezes, eu encontro com mulheres que foram chamadas de difíceis por outras pessoas e elas são essa visão suprema de busca e questionamento, curiosas e sabe- absolutamente brilhante. E eu sou geralmente introduzida a elas meio que “Seja cuidadoso porque ela pode ser estranha’. E é como se estivesse falando sobre um cavalo estranho e então você conhece o cavalo e ele é selvagem e maravilhoso, e então eles chutam e cospem e não estão acorrentados porque isso é depressivo entende? Então é mais do que homens que são super-táteis ou manipuladores. Toda essa condição está mudando. 

Toda a rede.

Sim, nós só queremos igualdade.

É  melhor. Só vai levar, como você disse, um tempo para desmantelar tudo e reorganizar nossos cérebros, e como disse, nas mulheres também. De alguma forma todo nós fomos programados assim.

Quero dizer, é educação, não? Tem tudo a ver com a educação. Nós fomos educadas nos nossos vinte anos que é desse jeito ou do outro – isso tem que parar. Começar nas escolas e no jardim de infância, em termos de rotular os outros. 

Sim. Então Desobediência foi algo que… [risos]. Só trazendo o assunto de volta.

Bom, muito bem [risos].

Você percebeu isso quando leu o roteiro? Digo, você inicialmente viu como apenas uma histórias sobre mulheres fortes, ou o que lhe chamou a atenção?

Bem, eu fiquei bem feliz com o fato de que dois dos três protagonistas eram mulheres e o que me atraiu foi que elas tinham essa grande história com a outra, e quando eu soube que a Rachel Weisz queria especificamente fazer desse projeto, centrado na mulher, eu achei brilhante. Eu amo ver uma mulher conversando com outra – duas mulheres, tão poderoso.E surpreendentemente raro, não acontece com frequência.  Em ‘Meninas Malvadas’ tem uma grande consciência da mulher, não tem? Tem uns poucos fantásticos homens na história, meninos, mas –

Claro [risos], meninos.

O poder da mulher é incrível. Então, Desobediência falou comigo. Veio a vida de um jeito muito bonito. Eu acho que ele é muito sensível e intenso e fala sobre amor, o que supostamente é sobre o que eu escrevo.

Sim, exatamente. Eu estava pensando, as pessoas sempre me perguntam por quê o Sebastián conta as histórias das mulheres de uma maneira tão bela, e me pergunto qual a sua opinião sobre isso?

Hmm, eu acho que ele está muito ligado com a sensibilidade feminina e a natureza masculina também. Creio que ele está interessado na força da mulher, ao invés dela em si. Gloria fala sobre as atividades de um mulher com 50 anos, você sabe o que acontece. [ Gloria, filme do Lelio de 2013, se passa em Santiago e é sobre uma mulher mais velha de espirito livre e seu relacionamento com um Oficial da Marinha aposentado que ela encontra em uma boate.]

Eu lembro dele falando que sentiu, com Gloria, que a audiência americana não iria responder porque eles já teriam visto essa histórias milhões de vezes e ele ficou surpreso quando lançou na America e as pessoas realmente abraçaram a ideia como algo novo e moderno. Só de contar a história sobre uma mulher explorando usa sexualidade e o que ela faria com a sua vida em seguida e, que a sua vida não acabou e que ela não é essa vó triste ou algo do tipo, e ele disse que estava tão chocado que isso não era o que acontecia aqui, que era algo que tinha não sido tão explorado, eu fiquei “Meu Deus, não, esse é o único.” Glória é único.

Sim é muito raro. E historicamente, a sexualidade da mulher tem sido aterrorizada, não é? Os homens se sentem aterrorizados. Apesar que se você olhar para os anos 30 e 40, existem filmes incríveis com mulheres – Barbara Stanwyck e toda essa era, onde mulheres eram o centro, Mildred Pierce [ 1945]. De repente uma décadas depois, tudo começou a girar ao redor do homem. Algo que eu gostaria de te pergunta, teve algum momento na sua infância ou adolescência que você meio que pensou “Ah, eu quero fazer isso. Eu quero atuar’? Teve um momento ou foi com o tempo que você pensou ‘Oh, eu quero fazer parte desse mundo?”

Bem, eu vi muitos filmes e assistia muita televisão enquanto eu crescia e eu fui sortuda o bastante em ter a oportunidade de assistir algumas peças – sabe, Cats quando eu tinha oito anos – e eu sempre me sentia inspirada quando eu via uma grande obra de arte, ou até mesmo algo que me tocava enquanto eu era uma criança. Eu pensei ‘Oh, eu quero fazer parte disso. Eu quero ser capaz de me expressar desse jeito.” Então mesmo sendo tão nova eu queria fazer isso de alguma maneira. Eu não entendia exatamente como seria. E então quando eu tinha uns 12 anos eu comecei a interpretar Shakespeare nesse acampamento de Teatro e eu tinha esse diretor incrível que nos tratavam como adultos e dizia. ‘Shakespeare não deve ser intimidador’ e então nós fizemos teatro grego no próximo ano

Wow.

Tem outra coisa,  as pessoas que você encontra no caminho que mudam toda a sua história. É uma combinação. Mas sim, foi a junção de todos esses aspectos. E eu tive uma professora incrível no Ensino Médio e eu não sabia o que eu queria fazer na faculdade, eu iria entrar em algo como Estudos Culturais e eu não sabia o que isso significava. Eu ainda não sei o que isso quer dizer [risos].

Sim, foi essa linguagem que falou com você, a linguagem do Shakespeare, ou atuar com outras pessoas, ou então tudo junto, toda a experiência? Ou o fato de poder ser outra pessoa?

Sim, a linguagem; me deu medo, foi como se algo em mim estivesse se transformando. Eu estava me forçando. Era como se nada tivesse jamais me impulsionado e incentivado como a sensação de estar em cima do palco, e o tanto que eu estava aprendendo, as histórias sobre outras pessoas e outras maneiras de viver, sabe, abriu os meus olhos.  Então, não exagerando, mas eu acho que foi quando floresceu pra mim. E como foi pra você? Porque você também é atriz..

Sim, mas eu cresci com os livros, eu gostava de livros. Eu cresci em um… sabe, nas docas e essa sensação de escapismo, eu amava – o fato que você podia escapar de alguma maneira.

Sim, absolutamente.

Bom eu gostaria de deixar registrado que você é a atriz mais incrível de todas [risos].

Oh [risos].

Eles vão imprimir isso -acredite em mim, eu te acho absolutamente incrível. E todo o elenco, o tempo voou. Foi muito bonito, o tempo passou muito rápido. 

Aw, obrigada!

Obrigada você.

Eu me sinto tão orgulhosa em relação ao que fizemos juntas, com Desobediência. É uma das coisas que eu mais tenho orgulho na vida. E obrigada por ter dado vida e deixar ser algo para todos nós.

Bom, foi absolutamente um prazer, e é muito raro o fato que você traz algo a mais e deixar fluir, foi fantástico. Eu não consigo parar de falar.

Não, você é incrível.

Mas você sabe, você não consegue fazer uma escritora para de falar.

Com uma conversa, essas são as melhores. As melhores entrevistas sempre são quando há uma conversa bem feita.

 

Ok, obrigada por ser tão deslumbrante.

 




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